Tipologias em Habitação Social
- Júlia Thomé
- 25 de abr. de 2016
- 5 min de leitura
A fim de compreender a habitação social coletiva, seu histórico e algumas das diferentes formas de tratar este tipo de projeto, escolhemos algumas habitações para análise.
Na ânsia de encontrar uma linguagem que sirva de fio condutor dos projetos futuros, nós, estudantes de arquitetura, procuramos nas tipologias arquitetônicas um método mais identificável de categorização, uma vez que não há ao certo como classificar os projetos realizados na faculdade que estão ainda em fase embrionária de amadurecimento.
Resumindo: as tipologias (por meio de estudos de composição) nos oferecem elementos que podem constituir uma regra; tais regras constituem a linguagem. Segundo Nesbitt, a tipologia seria um catálogo de soluções gerais para problemas de composição arquitetônica, idealizado até o mais alto nível diagramático.
Dito isso, temos que encontrar a essência tipológica de certa obra nos facilita certas tomadas de decisão durante o processo de concepção do projeto, durante definição do partido.
Como neste semestre realizaremos o projeto de habitações de interesse social, coube-nos pesquisar mais a fundo sobre as diversas tipologias deste tipo de construção, no que chegamos a:
De acordo com as organizações das unidades, temos as agrupadas e em fita.
As unidades agrupadas apresentam as vantagens de concentrar e reduzir as áreas de circulação, o que implica também em menores custos de construção. Por outro lado, devido às múltiplas orientações resultantes, fica mais difícil conciliar a melhor orientação para cada cômodo em cada módulo, e algumas unidades podem ficar prejudicadas. À medida que o número de unidades por andar aumenta, essas características são acentuadas.

Exemplo de habitação social agrupada: Alvenaria Social Housing, Portugal
A solução em fita é a resposta mais racional às exigências de luz e ar, privilegiando aspectos como orientação, vistas e ventilação cruzada. Quando as unidades são organizadas em fita, porém, ocorre maior dificuldade na solução das circulações. Este tipo implica em centralizar as circulações verticais, ampliando as horizontais ou em descentralizar as verticais.
Como exemplo podemos citar o edifício WoZoCo (MVRDV), em Amsterdam. Para propiciar a melhor iluminação natural para todas as unidades, os arquitetos decidiram suspender em balanço algumas unidades da fachada norte, criando ainda espaços no restante do terrenno.

WoZoCo (MVRDV) em Amsterdã, Holanda
De acordo com o segundo critério, a circulação, temos as seguintes opções de projeto:
Circulação Vertical Descentralizada sem corredor
Circulação Vertical Centralizada sem corredor
Circulação Vertical Centralizada com corredor lateral
Circulação Vertical Centralizada com corredor interno
A circulação é o primeiro aspecto que visualizamos ao analisar uma habitação social coletiva, pois pode ser trabalhada de diversas formas, já citadas.
No Conjunto Habitacional Pedregulho, por exemplo, podemos observar um largo corredor, com aproximadamente 260 metros de comprimento e 2,40 metros de largura (bloco A), tratado como uma “rua interna”, garantindo de forma suficiente a passagem dos moradores.

Conjunto Habitacional Pedregulho, de Affonso Eduardo Reidy
Apesar de extenso, a forma do edifício torna menos monótona e cansativa a caminhada. Ambos os blocos, possuem como forma de circulação vertical escadas, sendo no bloco A escadas coletivas implantadas a cada 50 metros e no bloco B, uma única caixa de escada na lateral do edifício.
O último modo de categorizar uma tipologia, talvez o mais evidente à primeira vista, é a planta do edifício.
A compacta, por exemplo, tende a um quadrado, não havendo grande predominância de uma das dimensões. Na linear, há predominância da dimensão longitudinal. Nas com pátio, o pátio pode ou não ser completamente configurado - há casos em que a proximidade e disposição de diferentes blocos geram um ambiente externo equivalente, em termos espaciais, ao pátio tradicional fechado. Também há as plantas em “U” e em “L”
Como um exemplo de planta que consideramos nas referências, vale ressaltar o projeto do grupo 24.7 Arquitetura para um concurso de habitação social. A preocupação com a fachada, com a identidade, a heterogeneidade e a descompactação do tradicional modelo da casa retangular, são pontos chaves na elaboração da proposta, segundo os arquitetos.
As plantas são flexíveis, podendo atender diferentes famílias, além da possibilidade de mudança de elementos da fachada. O projeto também prioriza a sustentabilidade, valendo-se ao máximo da utilização dos recursos naturais para propiciar o conforto dos usuários.

Esquema do diagrama de usos do projeto do grupo 24.7 arquitetura design.
Pesquisando diferentes projetos, encontramos exemplos que se encaixam em algumas de nossas exigências e condicionantes:
1) Projeto “SE VENDE” (ESPANHA): modulação / autonomia do espaço
A proposta dos arquitetos pretende criar moradias modulares, flexíveis e sustentáveis para as famílias desalojadas pelas consequências da crise.

Módulos: os módulos conterão as instalações prediais, ou seja, os sistemas de água e luz, além de abrigar as cozinhas e banheiros das unidades. Cada usuário possuirá quantos módulos considerar necessário.
Habitação: cada estrutura abrigará um número diferente de casas, que será determinado pelas necessidades das famílias. A organização de cada casa será flexível e definida pelo próprio usuário.
2) 43 Vivendas de Proteção Oficial em Almuradiel (ESPANHA): baixo gabarito / tipologia / sustentabilidade
Os arquitetos trabalharam com fragmentação, relação entre as partes e o todo, branco e luz.
O projeto incorpora critérios de sustentabilidade, considerando a forma como uma tática de controle do clima, assim como pretendemos fazer. Os tipos de casas são semelhantes dependendo da posição dentro do complexo.
As casas têm apenas 90m² (superfície interna), mas o volume total de cada habitação é de cerca de 600m³. Estes parâmetros podem dar uma ideia da porosidade da trama, bem como a possibilidade de espaços abertos privados (pátios), em continuidade com o interior.

Vimos bastante semelhança na tipologia, apesar de querermos mais individualidade em cada módulo, o que vai acabar trazendo mais movimento para nosso projeto.

3) Habitação Social Vivazz, Mieres (ESPANHA): pulverização de áreas verdes / boulevards urbanos
O projeto objetiva recuperar essa qualidade dupla do lugar, fazendo o projeto urbano e rural ao mesmo tempo. Uma parte do programa (áreas de armazenagem, garagem e instalações) foi designado em um porão comunitário.
Os arquitetos pretendiam que o edifício fosse adequando ao ambiente, aos vazios e recortes que permitissem a vista das montanhas adjacentes nos espaços entre os prédios,, possibilitando a entrada de sol e ar no espaço interno.
A entrada para os apartamentos passa por um espaço intermediário, tornando-o ativo e criando relações de vizinhança necessárias. A praça foi projetada com um leve desnível que absorve a inclinação natural do lugar e gentilmente liga todos os níveis de acesso e entradas principais. As áreas verdes ajardinadas são ligeiramente superiores, contendo os espaços de uso exclusivo dos apartamentos térreos, separando-os das áreas de circulação pública.
As casas têm orientação dupla permitindo vistas e ventilação cruzadas e são organizadas através de um núcleo central de banheiros que as divide em espaços diurnos e noturnos. As áreas diurnas se voltam à praça interior e têm janelas grandes que aproveitam a valiosa luz do sol, enquanto as áreas noturnas, com aberturas mais controladas e equipadas com persianas, se voltam à cidade. As unidades de habitação foram obtidas somando módulos contínuos de 2.6 m, fornecendo unidades de um, dois, três ou quatro dormitórios, atendendo portando aos vários tipos de apartamentos exigidos. O terraço, de um metro de profundidade, é apresentado como extensão visual e espacial do apartamento.


Gostamos muito da ideia das áreas verdes, pois uma vez que temos existente hoje na área uma AVL, parte do nosso projeto trata de integrá-la novamente ao espaço, dessa vez de uma forma que seja mais utilizada pelos usuários.
Com base nestes estudos, procuraremos tirar proveito do ponto forte de cada projeto a fim de embasar nossa proposta, levando em conta o conceito escolhido.
Fontes:
GUADANHIM, Sidinei Jr. HABITAÇÃO COLETIVA CONTEMPORÂNEA (1990-2010). 1ª Edição. Londrina: Editor Humberto Yamaki, 2014. 143 p.
BUCHMANN, Helena de Barros. TIPOLOGIAS DE HABITAÇÃO SOCIAL - “ARQUITETURA, CIDADE E SOCIEDADE”
http://www.archdaily.com.br/br/01-135370/competicao-habitacao-social-de-alvenaria-slash-fala-atelier
http://www.archdaily.com.br/br/01-25071/wozoco-mvrdv
http://www.archdaily.com.br/br/01-12832/classicos-da-arquitetura-conjunto-residencial-prefeito-mendes-de-moraes-pedregulho-affonso-eduardo-reidy
http://www.archdaily.com.br/br/01-141035/habitacao-de-interesse-social-sustentavel-slash-24-dot-7-arquitetura-design
http://www.archdaily.com.br/br/01-134002/primeiro-lugar-no-concurso-fundacion-konecta-projeto-se-vende
http://www.archdaily.com.br/br/01-82585/43-vivendas-de-protecao-oficial-em-almuradiel-slash-estudio-entresitio http://www.archdaily.com.br/br/01-128814/habitacao-social-vivazz-mieres-slash-zigzag-arquitectura
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