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# Certezas Provisórias

  • Coletivo
  • 5 de jun. de 2016
  • 12 min de leitura

Tendo em vista a problemática habitacional em nosso país e a necessidade de habitações sociais qualificadas, o projeto Areias do Campeche se trata de uma proposta de intervenção arquitetônica e urbanística para a área localizada no sul de Florianópolis, no bairro Campeche, próximo ao Morro das Pedras. O projeto se desenvolveu a partir de um conceito inicial de autonomia, que englobasse as ideias de dignidade, autossuficiência e versatilidade, de forma a propor uma habitação social qualificada que possua uma relação harmônica com o ambiente e o entorno e que possibilite uma transformação ao longo do tempo de acordo com a necessidade de seus usuários.

A partir do estudo da área, percebemos que para trabalhar com a comunidade em questão deveríamos trabalhar em diferentes escalas: o privado, compreendendo e nos apropriando do modo de morar já existente na comunidade, o público, integrando a comunidade entorno e o semi-público, servindo como uma área de transição entre os dois primeiros.

A comunidade em questão abrange cerca de 160 famílias de baixa renda, sendo boa parte da população proveniente de áreas rurais. As conformações familiares são muito distintas, variando de famílias jovens, adultos e idosos que moram sozinhos a famílias maiores. Esta miscigenação de configurações familiares é compreendida como um dos focos do novo projeto de habitação, que deve atender essas especificidades de uma maneira versátil.

As pessoas que residem nas Areias do Campeche possuem um longo histórico de luta pela posse da terra, ainda que esta área seja marginalizada e segregada pelo seu entorno composto por muros e por vias secundárias ou de passagem. O contexto urbano que cerca a área tem acarretado num forte processo de gentrificação no qual as famílias que ali residem vem sendo “expulsas” da área onde vivem, uma região privilegiada pelos recursos naturais próxima a orla. Desta maneira, um de nossos ideais é a manutenção da habitação nessa área, criando um espaço de moradia digna e adequada às famílias até então negligenciadas.

O espaço físico da intervenção possui características diferenciadas com as quais não costumamos trabalhar. Apesar de possuir fácil mobilidade regional em relação ao Campeche, as Areias não possuem uma relação forte de conexão com a ilha de Florianópolis como um todo e assim como parte do Campeche se relaciona de uma maneira mais autônoma com o resto do município. Sendo assim, vemos a possibilidade de criar nas Areias uma nova centralidade regional, visto que o Campeche não possui grandes centralidades pontuais e organiza-se de maneira dispersa.

A área em questão encontra-se em processo de urbanização e ainda conta com diversos terrenos não ocupados, o que cria uma característica diferente de entorno do resto da cidade de Florianópolis, sendo assim, a paisagem natural é mais presente e relevante que a paisagem urbana neste caso. As cadeias de morros que cercam a área, sua proximidade com o mar, dunas e a presença da Ilha do Campeche na orla podem ser vistas no zoneamento abaixo.




O terreno, por sua característica litorânea, é muito suscetível a problemas com o excesso de ventilação, visto que existem poucas barreiras próximas que ajudariam a dissipar os ventos. Nesse caso, o vento sul é parcialmente reduzido pela existência do Morro do Pântano do Sul, distante do terreno, além da presença de um grande muro no limite Sul, que pertence a um condomínio residencial fechado. O vento nordeste, no entanto, penetra o terreno livremente, visto que a orla cria um acesso direto ao terreno, o que pode acarretar no problema do carregamento de partículas de areia para dentro das residências e dos espaços públicos.

Com relação a insolação, é notável que o entorno não influencia diretamente o terreno em estudo devido ao baixo gabarito previsto no plano diretor da área, de no máximo 3 pavimentos. A figura abaixo esquematiza os mais influentes fatores bioclimáticos do terreno.


A implantação pretendida segue a ideia de linhas de forças do entorno próximo e do contexto urbano. A primeira linha do contexto urbano é a chegada já consolidada vinda da SC 405: a rua Francisco Vieira. Esta via apresenta um muro de grande escala que causa segregação da comunidade, mas ainda assim consideramos como uma rua importante que deveria ser trabalhada. Com esse primeiro ponto de importância de nosso terreno pensamos em outros itens que seriam como guias para o desenvolvimento do projeto. Algo muito característico da área é o mar, mas que apesar disso sua conexão não era clara e queríamos reforçar essa interação. A linha do mar se encontra a aproximadamente 75 metros do limite Sul do terreno.

Outra linha de força para a conformação da implantação foi a rua Jardim dos Eucaliptos vinda indiretamente da Avenida Pequeno Princípe , principal do bairro Campeche. A importância desse ponto se encontra devido ao seu contexto interbairros, consolidando a interação das Areias com o próprio contexto do bairro.

A linha de força interbairros contém um ponto de ônibus dentro da área de intervenção, que apresenta importância devido as linhas de ônibus que passam pelas ruas Jardim dos Eucaliptos e Pequi. Há quatro linhas de ônibus que passam por esse local: Castanheiras via Eucaliptos, Castanheiras via Gramal, Executivo Pântano do Sul via Eucaliptos e Executivo Pântano do Sul via Gramal

Outra linha de força importante em nossos estudos de implantação foram a ventilação e a melhor orientação solar. Com estudos na mesa d´água e no solarscópio verificamos melhor a nossa inicial implantação. A ventilação mostrava haver falhas e áreas de baixa pressão que impulsionavam uma ventilação Sul violenta. Observamos e chegamos na escolha de uma melhor passagem de vento com e sem obstáculos para determinadas situações.

A fim de possibilitar a implantação do empreendimento sem remover as famílias temporariamente no período de construção, minimizando os custos e os incômodos aos moradores, é proposto que a construção seja realizada em 3 etapas, sendo a primeira realizada na AVL (área verde de Lazer) próxima ao terreno. Realocando 50% das famílias para esta área construída, a segunda etapa construtiva pode então ser realizada na área antes ocupada por essas famílias. Depois de concluída, as famílias restantes seriam realocadas, desocupando a área da terceira etapa construtiva, que devolveria a área de AVL em uma localização mais interessante para a dinâmica regional. Nesta última etapa também seria inserido um número extra de moradias, a fim de atender possíveis famílias interessadas no conceito proposto do empreendimento, tanto pelo caráter social tanto pelo ecológico, criando uma miscigenação de classes no espaço, evitando o estigma que poderia existir sobre a área.

Na imagem animada abaixo, podemos compreender melhor a subdivisão por etapas, que acarretaria também na manutenção das relações interpessoais já estabelecidas de vizinhança entre os moradores.



A proposição de reestruturação da área, de acordo com pesquisas realizadas, não condiz com as diretrizes e limitantes do mais conhecido programa de viabilidade de habitação social do Brasil, o Minha Casa Minha Vida. A fim de viabilizar o empreendimento, propomos a realização de uma Parceria Público-Privada (PPP), na qual a prefeitura e a comunidade participariam na proposta do projeto, buscando então uma incorporadora apenas para a execução do projeto, além de indústrias parceiras do ramo ecológico.




#PROPOSIÇÃO - UNIDADE HABITACIONAL


  • Relação das pessoas atualmente (relação de casas e com a rua, manter a relação de independência; diferente da relação de prédios)

  • Autonomia de planta - planta livre, permitir a liberdade de layout

  • Unidades expansíveis

  • Esquemas das tipologias: casa, duplex, apartamento e exemplo de como elas compõe um bloco

  • Características de conforto: ventilação cruzada, insolação, dinâmica dos ventos e possível utilização de brises

A comunidade das areias possui uma característica de relação pessoal entre moradores através de terrenos grudados entre si, tempo de moradia no local, dificuldades conjuntas devido a inundações ou problemas sociais, entre outros. Como já apontado anteriormente, a comunidade sofreu diversos ataques de despejo e retirada que ocasionaram uma união e uma identidade entre as pessoas do local. Suas disputas sociais parecidas transmitem uma união da área.

Outro aspecto importante da comunidade são as relações de independência que uma casa com o terreno e quintal próprio causam. O grupo notou essa característica e quer através da tipologia e da linguagem transmitir essa ideia de independência e autonomia.

Cada edifício proposto apresenta apartamentos com um mini quintal que o morador tem a escolha de usar para lazer próprio ou para ampliação do seu apartamento. Vemos que a possibilidade de escolha e que a permissão de certas liberdades trazem a ideia de uma autonomia e versatilidade.

A interação com a rua é algo a se notar na área que devido às ruas estreitas as pessoas acabam se sentindo parte do interior da casa um do outro. A ideia de olhos da rua se mostra presente nas Areias e foi refletido pelo grupo e transmitido através de alguns aspectos.

O conceito escolhido pelo grupo para representar os interesse e a necessidade da comunidade foi de Autonomia. A ideia não como uma autonomia de isolamento ou capacidade de suprir as próprias necessidades, mas colocando de vez a dignidade no meio da área, transmitindo a versatilidade, o movimento, a interação da comunidade entre si e também com a cidade como o objetivo final. Autonomia significa então fazer parte da cidade de Florianópolis, mas ainda manter a sua identidade como a comunidade das Areias do Campeche.

Recolocando o conceito escolhido pelo grupo pensamos em transmitir essa ideia na tipologia dos apartamentos com plantas livres. Os apartamentos teriam uma área mínima para atender as necessidades dos moradores como cozinha, banheiro, sala de estar e os quartos, mas tirando o banheiro e uma parede hidráulica compartilhada com a cozinha, a planta teria um caráter livre. O grupo se propõem a colocar um layout mínimo como exemplo, mas a constituição de paredes móveis ou permanentes seria escolha de cada morador.

A ideia de planta livre impulsiona o usuário a retomar a ideia de independência que uma casa pode trazer. A junção da liberdade de planta e o acréscimo do quintal próprio para o lazer, criação de horta ou de expansão do apartamento reforçam a lembrança do que um dia já foi a comunidade, mas a trazendo a dignidade no viver de cada morador das Areias.

Abaixo podemos ver um exemplo de planta livre que pode ser modificada alterando o espaço interno da residência, criando um espaço integrado, espaços separados de moradia ou até mesmo uma função diferenciada, como ateliê de costura, pintura.




Nossas tipologias a serem desenvolvidas serão divididas em subtipos, reforçando a dinâmica da habitação e se adequando as especificidade e ao conforto do programa de cada tipo de família. A fim de possibilitar uma melhor relação com a rua, promovendo a manutenção dessa relação de entrada mais individualizada que hoje existe em cada lar, criamos unidades que se assemelham com uma casa, ainda que associadas em bloco. Essas unidades seriam "casas" térreas, duplex e apartamentos.

Dentro de cada um dos tipos de tipologia propomos diferentes opções de área semelhante, adequadas para os diferentes perfis de famílias a serem atendidos (casais jovens, famílias, pessoas solteiras, unidades acessíveis, unidades para idosos, além de unidades para locação).


-"casas" térreas: unidades habitacionais de um pavimento que se relacionam diretamente com a rua, visadas para famílias e que procurem atender a idosos e pessoas com necessidades especiais.

-duplex térreo: ainda sendo compreendidos como uma unidade residencial de "casa", o duplex seria visto como uma casa de dois andares geminada, como muitas das unidades já existentes hoje na comunidade, que ainda que não planejadas para serem geminadas acabam por "unir-se" com as residências vizinhas

- apartamentos: unidades cujas tipologias sejam tidas como apartamentos qualificados, com grande área externa e cuja circulação vertical seja o mais prática e direta o possível.


O conforto térmico foi considerado uma prioridade nessa escala, visto que em uma habitação social os recursos para a compra, manutenção e uso de equipamentos de conforto são poucos. A fim de atender essa necessidade, foi prevista a ventilação cruzada em todas as unidades, além da privilegiação da orientação Leste e Oeste como fachadas principais.

A organização das unidades de maneira desencontrada melhora a ventilação e reduz a absorção de calor pelas fachadas externas, assim como a utilização de terraços-jardim e vegetação auxilia na redução da absorção de calor pela cobertura.


Quantificação:

- 160 famílias atualmente residem nas Areias do Campeche

- Aproximadamente 220 unidades propostas


# PROPOSIÇÃO - VIZINHANÇA


  • Blocos que se conformam de diferentes maneiras (implantação geral e fachadas) - dinâmica e movimento

  • Relação de autonomia das residências (acessos verticais, sensação interna, relação com a rua)

  • Volumetria geral com fachadas independentes

  • Enfoque na escala humana (2 e 3 pavimentos)

  • Relação entre blocos e os espaços criados: eixos visuais, ventilação e fluxos

  • Zoneamento dos tipos de unidade por perfil de usuário

A associação de unidades foi realizada de maneira a criar um espaço dinâmico, caracterizando espaços internos de lazer e estar conectados visualmente entre si, além do fator local de ventilação que também foi levado em consideração. Os eixos criados estabelecem uma conexão visual entre o mar e a principal rua dessa centralidade e também aos espaços de lazer do conjunto de edificações. Existe também o eixo transversal de conexão, que evidencia a relação sensível entre as edificações e espaços abertos, sendo este usado como um setor de comércio e serviços associados a própria unidade residencial, como por exemplo serviços de costura, cabeleireiro, etc.

Como já citado, cada apartamento apresenta certa autonomia na sua planta livre e cada usuário pode decidir a melhor disposição. A ideia foi transpassada para os blocos como um todo, principalmente través da circulação e dos acessos. Os apartamentos térreos tem ligação direta com a rua, com o objetivo de reforçar a ideia de individualidade e autonomia. Os apartamentos do segundo e terceiro pavimento apresentam circulação reclusa e mais individual.

A configuração de associação modular foi escolhida de modo a ressaltar visualmente a dinâmica do conjunto, individualizando as fachadas. O resultado dessa configuração é limitado pelo gabarito estabelecido pelo plano diretor do Campeche, de três pavimentos, sendo assim optamos por nos utilizar do escalonamento entre 2 e 3 pavimentos, reforçando a escala humana dos espaços abertos configurados pela disposição dos edifícios. A movimentação horizontal de cada de apartamento traz uma dinâmica e versatilidade distribuindo assim uma configuração diferente para cada bloco, além da dinâmica de diferentes blocos em seu aspecto visual há também a separação de usuários.

Com relação a ocupação de cada bloco e a distribuição de famílias, optamos pela setorização de perfis familiares de acordo com cada bloco, sendo estes diferentes entre si. A separação de perfis traz a ideia de identidade e incentiva uma interação de tipos de público, além de reforçar nas plantas dos apartamentos aspectos comuns para cada perfil como a utilização de acessos mais permeavéis para os blocos de idosos e cadeirantes, além da relação desses perfis com o seu entorno imediado e os equipamentos neles contidos.

O zoneamento dos blocos foi pensado através das etapas de construção e dos usos do tereno no todo. A área perto da rua Jardim dos Eucaliptos necessita apresentar todos os tipos de usuários devido a sua ordem de construção. A primeira etapa mostra cinco blocos, um de maior área que foi reservado para idosos, deficientes físicos e famílias pequenas. Os outros blocos da primeira etapa apresentam famílias pequenas, grandes e indivíduos que moram sozinhos. A segunda etapa de construção apresenta modelos similares, enquanto na terceira etapa é inserido a categoria rentável de unidades para locação, associadas a unidades de moradia destinadas a pessoas que não são parte da comunidade. Os blocos para locação ficaram próximos do Boulevard recreativo e comercial, área na qual a movimentação de pessoas deve se mostrar intensa.






# PROPOSIÇÃO - BAIRRO

  • Relação fraca de paisagem urbana, ela se relaciona mais com a paisagem natural - morros, ilha, mar

  • Entorno sem características marcantes, ausência de um centro consolidado -- criação de um centro social, lazer e sustentabilidade

  • Relação dos espaços públicos, semipúblicos e privado

A área das Areias, diferente de muitas outras áreas no município, tem pouca influência de uma paisagem urbana, visto que seu entorno além de possuir baixa densidade e baixo gabarito é pouco consolidado, com um grande número de lotes vazios. Além disso, a relação com o bairro do Campeche se mostra presente mas ainda enfraquecida, assim como a relação da área com o contexto urbano geral do município de Florianópolis.

Devido a alguns desses fatores o grupo achou a necessidade da criação de um novo centro social. A comunidade mostra um histórico conturbado e conflituoso que nos anos 1980 e 1990 trouxe a unidade das Areias e de seus moradores. A área mostra um grande potencial de referência para ser não apenas uma centralidade regional, mas também um modelo de sustentabilidade em virtude da sua grande integração com recursos naturais como o mar e a proximidade da Lagoa do Peri, Morro das Pedras entre outros.

O entorno natural, diferentemente do urbano, se mostra como um grande influenciador projetual. O Morro das Pedras, do Lampião e da Lagoa não poderiam ser esquecidos como fatores de importância para o limites de implantação, mas a maior influência natural na comunidade é sim o mar e a área de dunas que se localiza entre ele e a área de intervenção. A Ilha do Campeche se mostra influente na paisagem e com sua interação na futura proposta de enfoque visual do terreno com o mar

No terreno das Areias a presença das AVLs é apontada pelo Plano Diretor e o grupo reconhece o seu fator de impotância, mas avalia que seu melhor aproveitamento é alcançado através do dissolver nas áreas de transição semipúblicas. A linha de força de maior importância no conjunto é a chegada da SC 405 e da sua ligação com o mar. A restituição da área de AVL é proposta através de um Boulevard recreativo e esportivo, com equipamentos, instituições e paisagismo que qualificariam uma área de entorno muito maior que a própria área de intervenção.


Assim como no caso do Boulevard anteriormente citado, as áreas abertas projetadas se relacionam com os indivíduos que vivem ao seu entorno. No setor norte do terreno, foi pensada uma área de socialização comunitária e uma grande área infantil, com relação visual com a orla e também com grande parte dos edifícios propostos, se tornando um centro radial de todos os espaços abertos. No setor próximo a rua que divide a área em duas, onde se localiza o ponto de ônibus, é proposta uma grande praça que acolha os moradores e visitantes de maneira receptiva. Os espaços entre blocos é visto de duas maneiras: no eixo central do setor sul, o uso comercial é privilegiado, enquanto os outros dois vãos desse setor, um pouco mais reclusos, se apresentam como áreas abertas de extensão das próprias atividades do lar.









 
 
 

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